Alunos das redes pública e particular de ensino discordam da
aplicação da nova ação afirmativa
Igor Miranda
O debate em relação às cotas para
entrada nas universidades públicas novamente vieram à discussão com a extinção
do Programa de Ação Afirmativa de Ingresso no Ensino Superior (PAAES), processo
seriado da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), no mês de novembro de
2012. Estudantes de escolas públicas tinham direito a 25% das vagas da
universidade nos cursos com entradas anuais e 50% nos semestrais. Agora, a Lei
Federal de Cotas Sociais e Raciais determina que no mínimo 50% das vagas da
universidade devem ser destinadas a esses discentes.
O vestibular tradicional foi
substituído pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e seu Sistema de Seleção
Unificada (Sisu). Essa determinação é imposta pelo governo federal a todas as
universidades públicas e permite que seja aplicada gradativamente até o ano de
2016. No entanto, a UFU preferiu a integração completa com três anos de
antecedência ao prazo final.
A decisão, tomada pelo Conselho
de Graduação (Congrad) e aprovada pelo Conselho Universitário (Consun),
descontenta alunos das redes de ensino pública e particular. Os dois segmentos
consideram desfavorável a extinção do PAAES – o que, inclusive, estimulou uma
manifestação de estudantes que ocorreu do lado de fora da reitoria da
universidade, durante a reunião do Congrad que acabou oficialmente com o
processo seriado, em 20 de novembro de 2012.
Apesar de mais vagas dedicadas
aos estudantes de escolas públicas, os mesmos afirmam que o Enem aumenta muito
a concorrência, diferente do PAAES, menos concorrido. Além disso, antes era
necessário ter estudado os últimos sete anos em escola pública – agora apenas
três anos bastam para se ter direito à cota.
Os estudantes de colégios
particulares, por sua vez, protestam contra a redução de vagas àqueles que não
estão enquadrados nas ações afirmativas – de 75%, passaram a ser 50%. Além
disso, foi discutida a implementação realizada de forma não-gradual.
A questão
das cotas entra em conflito com interesses particulares de grupos sociais. O
passado histórico do país traz a necessidade do uso das ações afirmativas, que
têm como objetivo a reformulação da educação em seus estágios mais avançados,
enquanto as alterações e os investimentos realizados na base não surtem efeito.
A concorrência por uma
vaga na UFU reduziu bastante desde que o Programa Alternativo de Ingresso no
Ensino Superior (PAIES), deu lugar ao PAAES. Enquanto este foi restrito aos
alunos de escola pública, aquele era aberto a todos os estudantes.
O Senso (In) Comum ouviu alunos de Ensino Médio,
universitários e ex-alunos da UFU para saber a opinião a respeito do assunto.
“Eu acho que o PAAES era um processo muito válido e que
funcionava. Era como um estímulo aos alunos estudarem firme todos os anos do
Ensino Médio e terem o mérito próprio por entrar na universidade. Mas mesmo as
cotas sendo uma remediação de um problema que já devia ter sido resolvido na
base, os alunos que entram com cotas pelo Sisu têm que ser, no mínimo, melhores
do que a média das escolas públicas. Eu concordo com cotas sociais. Mas cotas
raciais só reforçam o preconceito que já é impregnado no Brasil.”
Marina Pagliari,
17, concluiu o Ensino Fundamental e Médio pela rede privada de ensino. Aprovada
pelo vestibular 2012-2 para Biotecnologia (UFU) e Enem/Sisu 2013-1 para
Jornalismo (UFU).
“Eu acho que a extinção do PAAES foi um retrocesso, porque
era um processo separado. No ENEM, a gente já concorre com o país inteiro.
Agora, com essas subdivisões, ficou bem mais difícil conquistar a vaga. Não
concordo com cotas porque o ensino das escolas publicas não deveria ser
inferior ao das particulares. O governo tinha que investir na educação e não só
facilitar o ingresso deles como estão fazendo.”
Aline Ramos, 16,
concluiu o Ensino Fundamental e Médio pela rede privada de ensino. Fará o
vestibular 2013-2.
“Fui prejudicada com esse sistema. Não sou totalmente contra
o sistema de cotas, porque acho que os estudantes que não têm acesso a uma
educação pública de qualidade têm mais dificuldade de ingressar na universidade
pública. Mas o que me irrita é que o governo trata essa medida como a solucionadora
do problema, que, no meu ponto de vista, vai além. Todos deveriam competir de
forma igual, porque todos deveriam ter acesso a uma educação de qualidade
oferecida pelo governo.”
Maria Luiza Vilela,
19, concluiu o Ensino Fundamental Médio pela rede privada de ensino. Aprovada
pelo Enem/Sisu 2013-1 para Filosofia (UFU)
“Eu considero o fim do PAAES um retrocesso, pois a partir do
momento em que você retira um processo quase exclusivo do Triângulo Mineiro
para aderir a um que seja nacional, você estará ao mesmo tempo dificultando a
vida de alunos de escolas publicas de Uberlândia e região. Digo isso, pois é
impossível equiparar o ensino público de todo um país. Sobre as ações
afirmativas, eu sou a favor somente das cotas que levam em conta renda e origem
escolar (pública ou privada).”
Jocival Júnior,
18, concluiu o Ensino Fundamental e Médio pela rede pública de ensino. Aprovado
pelo Enem/Sisu 2013-1 para Sistemas de Informação (UFU)
“Em relação ao PAAES, considero a nova lei um retrocesso,
porque todos que participavam desse processo seletivo realmente precisavam
desse meio para ingressar. Se é pra favorecer os estudantes, no meu ponto de
vista, a UFU teria que voltar com o vestibular, porque só as pessoas daqui de
Uberlândia ou da região ingressam na universidade daqui. Ou então permitir o
PAAES, porque o mesmo favorece as pessoas que não possuem renda para pagar
ensino particular. Eu sou a favor do sistema de cotas, principalmente racial. É
um ótimo meio pra acabar com a desigualdade. Mas ainda precisam ser tomadas
várias atitudes para realmente favorecer os estudantes.”
Laís Caroline, 17,
concluiu o Ensino Fundamental e Médio pela rede pública de ensino. Aprovada
pelo Enem/Sisu 2013-1 para Design de Interiores (UFU).
“Creio que o governo tentou, com a exclusão do PAAES e a
instauração da Lei de Cotas, reduzir a diferença gritante dos anos anteriores
de alunos provindos de escolas particulares dentro das universidades públicas.
Sou a favor de cotas para alunos de escolas públicas e alunos de baixa renda
financeira. Acredito que essa não é a solução para o problema da educação. A
educação deveria ser reestruturada pela base. Mas reconhecer que a educação
pública é defasada e contribuir de alguma maneira para que a diferença social
seja amenizada atribuindo mais oportunidades já é um avanço.”
Juliana Martins Pires,
22 anos, concluiu o Ensino Fundamental, Médio e Superior pela rede pública de
ensino. Professora de redação recém-formada em Letras pela UFU.
“Pra mim não há avanço ou retrocesso no fim do PAAES. As
duas formas de separação de vagas têm o mesmo objetivo: facilitar a entrada de
alguns estudantes, seja de escola pública, de baixa renda ou de etnias
desfavorecidas. Penso que toda forma de privilegiar um grupo de estudantes é
injusta. As cotas raciais são uma piada de mal gosto. A única cota que seria
menos injusta é a que separa vagas para pessoas que comprovem ter vivido com
baixa renda e por isso não puderam ter bom estudo, mas ainda assim atesta que o
ensino público é ruim e não pretende melhorar.”
Mariana Macedo Vieira,
19 anos, concluiu o Ensino Fundamental e Médio pela rede particular de ensino.
Aprovada pelo Enem/Sisu para Direito (UEMG).
“Não considero cotas como medidas eficazes. São como uma
tentativa de justificar falhas. Durante as últimas inscrições do Sisu eu
poderia ter me inscrito por meio das cotas, pois sempre estudei em escola
pública. Mas nunca me senti desfavorecida por nenhum motivo e por isso concorri
amplamente. O problema, no meu ponto de vista, está na base da educação
pública. Se nossas escolas tivessem nível educacional tão bom ou melhor do que
escolas particulares (o que deveria ser), o aluno ao fim do Ensino Médio não
precisaria recorrer às cotas para conseguir entrar na faculdade.”
Jéssica Sant'Ana Silveira, 18 anos, concluiu o
Ensino Fundamental e Médio pela rede pública de ensino.





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