
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
PET CONEXÕES DE SABERES: EDUCOMUNICAÇÃO
Jornalismo, Pedagogia e Licenciaturas UFU
Prezado conselho editorial do jornal Senso (In) Comum:
Esta manifestação baseia-se em nossas impressões acerca do artigo de opinião assinado por Marina Martins, na 3° edição do Jornal Senso (In) Comum. É válido ressaltar que nos expressamos aqui como integrantes do PET Conexões dos Saberes com a temática Educomunicação, um programa que visa o acesso e permanência de alunos oriundos de comunidades populares urbanas na universidade. Nosso grupo compõe-se de alunos provenientes de escola pública, de baixa classe econômica e hoje discentes dos cursos de Pedagogia, Educação Física, Jornalismo e Letras, que compreendem o jornalismo opinativo como o ato de opinar fundamentado em dados que o auxiliem na sustentação das teses do autor.
Para nós, a diferença entre “juízo de fato” e “juízo de valor” é fundamental para a argumentação jornalística. O primeiro consiste na expressão de opinião com estrutura teórica, estatística, preocupada com os verdadeiros prós e contras e ainda com uma carga de leitura relevante que permita a construção de uma opinião solidificada. O segundo refere-se meramente ao simples “achismo”, ou seja, carente de embasamento e carregado de subjetividade, mitos e crenças.
O jornal, na tentativa de ser imparcial ao abordar o tema das políticas públicas de ações afirmativas na universidade, não conseguiu expressar opiniões diferentes sobre a política de reserva de vagas para alunos de escola pública adotada pela UFU. O primeiro artigo, assinado por Natália Santos trata das implicações que a autonomia universitária trouxe aos discentes e docentes da UFU, enquanto o segundo, escrito por Marina Martins, expressa claramente à opinião de que os alunos provenientes de escolas públicas não têm capacidade de acompanhar o ritmo de ensino nas instituições superiores. Destaca-se: “Um aluno que não consegue concorrer no vestibular, pode não conseguir acompanhar um curso superior também”. Trata-se de uma afirmação determinista, generalizante e preconceituosa. As escolas privadas podem significar uma vantagem na luta por uma vaga na universidade, mas não representam as únicas opções possíveis para o ingresso. Os chamados “desfavorecidos” podem e devem, sim, conseguir “entrar” na universidade.
Acreditamos, como defensores da reserva de vagas na universidade, que a melhoria do ensino básico é apenas uma das formas de equiparar as condições para concorrer a vagas na universidade pública. Mas, cremos ainda que o processo de seleção para o ingresso nestas mesmas instituições exige apenas que o aluno esteja preparado para um teste de determinados conteúdos que pouco avalia a sua capacidade de aprendizagem. O fato de um aluno estar apto a resolver as questões da prova do PAAES/Vestibular não implica que este aluno é obrigatoriamente o mais preparado para o ensino superior.
Podemos afirmar ainda que a excelência no ensino básico não garante que este mesmo aluno, de baixa classe econômica tenha as condições necessárias para manter sua permanência na escola. É preciso garantir alimento, transporte, segurança e até mesmo sólida estrutura familiar (entendendo a família aqui não apenas em seus moldes formais).
Contrariamente à afirmação presente no artigo “Olhar o sol, sem peneira”, acreditamos que as cotas tratam da inclusão daqueles que não mais podem esperar as melhorias no ensino básico para fazer parte do espaço público que lhes é devido. Opondo-se ainda às argumentações da autora, pesquisas apontam que não existem distúrbios ou queda de rendimento dos alunos cotistas bem como da qualidade de ensino das instituições que adotam as cotas.
A Universidade Federal da Bahia constatou que os estudantes que ingressaram pelas cotas por serem de escolas públicas e/ou negros “tiveram rendimento igual ou superior ao dos demais alunos em 61% dos 18 cursos mais valorizados” (VELLOSO, 2009, p. 623) [1].
De acordo com pesquisa realizada pela Pró-Reitoria de Graduação e pela Comissão de Acompanhamento de Cotistas da Universidade Federal do Paraná, em 2007, os alunos que ingressaram pelo sistema de cotas tiveram o melhor desempenho acadêmico em relação aos não-cotistas. A nota média dos alunos vindos de escolas públicas foi de 63, enquanto a dos não-cotistas foi de 61. O levantamento mostra ainda que 77% dos alunos não-cotistas concluem as disciplinas obrigatórias no primeiro ano de curso; para os cotistas, a taxa é de 78%. No critério conclusão dos períodos dentro do prazo, os estudantes das vagas destinadas à escola pública também lideram: taxa de 52% em comparação aos não-cotistas, que têm índice de 49%.[2]
Neste contexto, queremos enfatizar que o conselho editorial do jornal Senso (In) Comum nada mais apontou, com a publicação do referido artigo, do que o senso comum que permeia os rasos debates sobre a necessidade das cotas nas universidades públicas do país. Acreditamos que garantir o ingresso ao ensino superior àqueles que historicamente constituíram-se (ou melhor, foram constituídos) como excluídos é entender que a universidade não deve ser um espaço dos privilegiados pelas suas condições materiais objetivas, mas sim um espaço da pluralidade, da diversidade.
Devemos, contudo, entender o ingresso na universidade como um primeiro passo. Precisamos garantir, para além dele, a permanência dos alunos oriundos das camadas populares da sociedade. Mas não podemos parar na perspectiva do acesso e da permanência. Temos que pensar, lutar e construir, mais seriamente ainda, as condições para a universalização do ensino superior público, gratuito e de qualidade.
Atenciosamente,
Abadia Adenísia Rocha e Silva
Adriana Carolina Soares dos Santos
Andressa Garcia Castilho
Brunner Macedo Guimarães
Cíntia Aparecida de Sousa
Deisiane Maria Moreira Cabral
Diélen dos Reis Borges Almeida
Gabrielle Carolina Silva
Francklin Vinícius de Barros Tannús
Jessica Alessandra de Jesus Marquês
Lorraine Cássia Silva Oliveira
Marcos Vinícius Reis
Monica Karine da Silva
Rita de Cássia Melo
Suzana Rosa Arantes
Thais Rodrigues Martins
Valquíria Cristina Amaral
[1] VELLOSO, Jacques. Cotistas e não-cotistas: rendimento de alunos da universidade de Brasília. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/v39n137/v39n137a14.pdf. Acesso em 03 maio 2011.
[2] Na UFPR, cotistas do ensino público têm o melhor desempenho. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/educacao/ultnot/ult105u5248.jhtm. Acesso em 03 maio 2011.




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