Resposta do Senso (In) Comum à manifestação do PET Conexões de Saberes

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Prezados discentes integrantes do PET Conexões dos Saberes,

“Não concordo com uma palavra que dizes, mas defenderei até a morte, o direito de dizê-las”. As palavras de Voltaire são fundamentais para compreender a situação levantada pelo PET Conexões dos Saberes, através de documento encaminhado ao Conselho Editorial do jornal Senso (in)Comum.

Sem entrar no mérito da opinião expressa pela autora do texto “Olhar o sol sem peneira”, Marina Martins, tampouco das informações minuciosamente detalhadas pelo documento a nós encaminhado pelos estudantes que compõem o PET Conexões dos Saberes, nossa resposta à manifestação é sustentada por duas lógicas, a saber: primeiro, que a livre expressão do pensamento é direito constitucional garantido no Brasil; e, segundo, que tal expressão é característica dos textos jornalísticos opinativos, especialmente daqueles com autoria definida e explicitada.

Com a extinção da Lei de Imprensa em 2009, vigente no Brasil desde 1967, é a própria Constituição Federal que assegura aos veículos de comunicação a possibilidade de dar voz a uma diversidade de opiniões. Em seu artigo 5º, parágrafo IV, ela determina: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Mais adiante, no artigo 220º: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição [...]”. E ainda, no parágrafo 2º, complementa: “É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”.

Sendo o jornal-laboratório Senso (in)Comum produção de estudantes universitários para estudantes universitários, e considerando a universidade como espaço de diálogo e diversidade de idéias, não pretendemos estabelecer nas suas páginas o confronto à determinações constitucionais que sustentam a liberdade de expressão como direito fundamental do ser humano. Não é nossa intenção estabelecer vigilância ou censura prévia a nenhuma opinião, desde que esta seja expressa em conformidade às normas jornalísticas e às determinações editoriais do jornal, criadas pelos próprios estudantes do Curso de Jornalismo da UFU, alguns, inclusive, integrantes do PET Conexões dos Saberes e signatários da manifestação em questão. Ademais, não podemos perder de vista que o jornal é uma atividade laboratorial e um espaço de formação dos estudantes do Curso de Jornalismo, e tal característica o faz também ambiente de aprendizado na formação de idéias e no exercício da argumentação e não espaço de opiniões definitivas ou construções textuais irretocáveis.

Quanto ao segundo ponto, é importante destacar que diversas classificações teóricas dividem os textos jornalísticos em dois grandes gêneros: aqueles que têm como intenção informar (e, para tanto, devem buscar técnicas que garantam sua credibilidade, como a utilização de múltiplas fontes e a redação precisa e imparcial) e aqueles que têm a intenção de comentar (utilizando de recursos retóricos e argumentativos para demonstrar e convencer o leitor da sua opinião). José Marques de Melo, que pode ser considerado o maior dos pesquisadores sobre gêneros jornalísticos no Brasil, nas três edições de seu clássico “Jornalismo Opinativo”, ressalta a diversidade de formatos dentro do gênero opinativo, citando pelo menos oito diferentes tipos de textos.

Entre os formatos opinativos apresentados por Marques de Melo, destaca-se o editorial como “[...] o gênero jornalístico que expressa a opinião oficial da empresa [...]” (2003, p.103). Entre os demais, o autor destaca que, o fato do texto expressar claramente as marcas textuais e gráficas do gênero opinativo, oferece elementos para o leitor fazer livremente a distinção entre notícias e comentários. Conforme ele, a “autoria definida e explicitada” é “o indicador que orienta a sintonização do receptor” (MARQUES DE MELO, 2003, p.66)

Com base no exposto e respondendo às questões levantadas no manifesto encaminhado pelos discentes do PET Conexões dos Saberes, defendemos que um veículo de comunicação que se pretenda sério e representante da opinião de um grupo tão heterogêneo como os estudantes da Universidade Federal de Uberlândia, não deve limitar a expressão de opiniões apenas àquelas que estão em consonância com as opiniões ou interesses dos seus editores ou produtores. Os textos da terceira edição, que motivaram a manifestação supra-citada, visaram tal pluralidade.

Não consideramos que, ao optar por tal publicação, o jornal assume para si as idéias expressas por seus articulistas e colaboradores. Ao contrário, entendemos que, conforme a tradição jornalística de separação de news e comments, oferecemos ao leitor todos os elementos para que ele próprio faça tal distinção, de acordo com os padrões jornalísticos correntemente adotados em outras publicações similares.

Sendo assim, mantendo a posição do veículo de oferecer espaço à multiplicidade de opiniões, colocamo-nos à disposição para publicar no blog do Senso (in)comum a manifestação dos estudantes integrantes do PET Conexões dos Saberes tal como nos foi entregue. Também oferecemos a tais discentes como grupo e/ou a algum discente em particular, a oportunidade de manifestar sua(s) opinião(ões) no jornal impresso. Tal manifestação deverá ser feita através de texto opinativo com autoria definida e explícita, seguindo as regras do jornalismo opinativo e o espaço gráfico-editorial disponibilizado pelo jornal, de 2.000 caracteres.


            Sem mais, colocamo-nos à disposição para qualquer esclarecimento.
           

Atenciosamente,


Ana Spannenberg
Editora-chefe Senso (in)comum

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