Assunto
abordado em séries americanas atrai interesse do público universitário
Letícia Daniela Gonçalves Medeiros
O Simpósio de Medicina Legal foi ofertado pela primeira vez na
Universidade Federal de Uberlândia, entre os dias 7 e 8 de novembro de 2012. O
objetivo foi levar informação e desenvolver interpretação crítica sobre o
assunto, promovendo a integração de diferentes áreas. Os participantes tiveram uma interlocução com profissionais de outras
ciências, possibilitando a agregação de conhecimentos difíceis de serem
adquiridos em sala de aula. O
evento reuniu alunos da área de Biomédicas, Direito e cursos afins.
O intuito do I Simpósio de Medicina Legal da UFU, organizado pelo Programa
de Educação Tutorial (PET) do curso de Medicina, ia além de simplesmente
informar. Os participantes foram levados a desenvolver capacidades de
interpretação crítica, estimulando uma formação mais abrangente. Outra proposta
era fazer com que os alunos pensassem na importância da Medicina Legal para a
comunidade, abordando noções básicas sobre o tema.
A ideia surgiu a partir da Semana Científica da Medicina, realizada
anteriormente pelo curso, em parceria com outros departamentos e órgãos
associados à FAMED. No ano de 2012, o curso optou por um evento diferenciado.
“Decidimos organizar um simpósio multidisciplinar, para um público-alvo mais
heterogêneo, já que nossa universidade carece bastante de eventos assim”, conta
Isis Prado, membro do PET Medicina. A estudante afirmou ainda que o tema
“Medicina Legal” é pouco abordado no meio acadêmico e de grande interesse,
justificando o sucesso do primeiro evento. “Foram realizadas mais de 300
inscrições”, relata a aluna do 5º período.
O simpósio recebeu tanto alunos de outros cursos como também de outras
universidades. Eduardo Vaz é estudante da Universidade Federal do Triângulo
Mineiro (UFTM) e esteve em Uberlândia nos dias do evento. Apesar de não saber se teria vocação para a
área, o aluno mostra interesse pela Medicina Legal. “O que mais me prendeu foram
as partes da palestra sobre leis, deveres e tudo mais. Gostei também da parte
de necropsia”, comenta o aluno. Eduardo está no 1º período de Medicina e, antes
de começar o curso, tinha uma visão diferente sobre a área. “Eu não imaginava
que seria tão complexo assim, que há uma exigência tão grande de conhecimentos
anatômicos. É muita responsabilidade”, afirma.
Ficção x Realidade
A área de Medicina Legal ganhou popularização e
visibilidade desde que séries americanas de TV começaram a ser exibidas, fato
que explica a visão estereotípica construída acerca do tema. “C.S.I.: Investigação Criminal” é um exemplo
de programa televisivo com esse cunho. A série mostra um grupo de cientistas
forenses do departamento de criminalística desvendando crimes e mortes em
circunstâncias misteriosas e raras. Apesar de famosa, a série mostra a área
como investigação de crimes violentos, sendo esta apenas uma das possibilidades
de atuação dessa especialidade. Na verdade, o
tema envolve não apenas a investigação, mas engloba também diversos ramos
forenses e áreas como psiquiatria, antropologia, sexologia e afins.
Os participantes do simpósio tiveram uma sessão de Medicina Legal, na
qual foi apresentado o relato de um crime, tanto para um médico legista quanto
pelo perito criminal envolvido no caso. A estudante Isis Prado, que contribuiu
na organização do I Simpósio de Medicina Legal da UFU, afirma que esse fato
remete ao universo das séries americanas, já que muitas são baseadas em crimes
reais. “Existem semelhanças sim e, de fato, até
aquelas marcas deixadas pelo pneu de um carro e os fios de cabelo encontrados,
como vemos em vários episódios, acontecem na ‘vida real’ e colaboram para o
sucesso na investigação”, admite a estudante. Como não se trata de ficção, a
Medicina Legal não é tão “hollywoodiana” e os crimes não são sempre desvendados
e nem os culpados descobertos e punidos, como na maioria do encerramento dos
episódios.
O universo das séries sobre investigação de crimes tem contribuído para
o interesse de diversas classes sobre Medicina Legal. A maioria delas é gravada
nos Estados Unidos e é preciso chegar ao conhecimento do público de que, no
Brasil, a realidade é diferente. Os meios de pesquisas aqui disponíveis não são
tão modernos como na ficção, dificultando o desvendar dos casos.
Antes de entender mais a fundo sobre o assunto, o estudante de Medicina
da UFU, Luciano Faria acreditava que os procedimentos e técnicas eram tão
sofisticados como no mundo das séries de televisão. Hoje, ele percebe que não é bem assim. “A
infraestrutura é precária, equipamentos são
obsoletos, não há verba para realizar alguns tipos de exames e outros demoram
muito para ficar prontos”, conta o jovem. Ele declara que a popularização da
Medicina Legal, por meio dos programas ficcionais de investigação, ocorreu
apenas no sentido de despertar interesse sobre a área. “Quando as pessoas
aprofundam um pouco sobre como é a realidade, elas já se conscientizam que não
tem nada a ver com as séries americanas”, constata Luciano.
A Medicina Legal é uma ciência de larga proporção e importância para a
comunidade. A área aborda as especialidades médicas e jurídicas, utilizando
conhecimentos e técnicas advindos da Medicina a fim de esclarecer fatos de
interesse da Justiça. Quem a pratica é denominado médico legista ou,
simplesmente, legista. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina Legal,
para obter o título de especialista na área, é preciso se submeter à prova de
título, realizada periodicamente pela ABML. A condição primeira é ser médico
com registro no Conselho de Medicina do Estado. As demais exigências constam em
cada edital, publicado dentro das diretrizes estabelecidas pela Associação
Médica Brasileira (AMB).




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