Possibilidades invisiveis aos olhos

terça-feira, 26 de março de 2013

Aline de Sá



             A idéia de criar componentes eletrônicos de tamanho reduzido baseado na nanotecnologia já havia passado pela cabeça de diversos pesquisadores e cientistas. Atualmente, alguns laboratórios e centros de pesquisa já possuem recursos para desenvolver e criar objetos minúsculos, invisíveis a olho nu, que podem chegar à impressionante dimensão de uma célula humana.
             De acordo com o professor do Instituto de Física da Universidade Federal de Uberlândia Edson Vernek, a tecnologia ainda está em desenvolvimento. “Hoje em dia não estamos no auge da nanotecnologia, estamos em desenvolvimento. Mas já está presente, por exemplo, nos nossos transistores”, diz. Essa nanotecnologia permite que os transistores sejam produzidos em menor escala. “O primeiro foi do tamanho de um copo. Hoje o meu celular tem alguns milhões de transistores. É a tecnologia que permite fazer esse tipo de coisa”, ressalta.
             Os pequenos componentes já são utilizados por diversas áreas tais como informática, medicina, cosméticos, eletrônica, entre outras. Vernek explica que utilizando essa tecnologia, o cientista pode construir o que não pode ser encontrado na natureza. A ideia da nanotecnologia é que seja possível construir a matéria a nível molecular para que ela desempenhe algum papel desejado. “Uma molécula natural é daquele jeito porque ela foi naturalmente construída para desempenhar aquele papel, por exemplo, as moléculas responsáveis por fazer a fotossíntese. Agora, se preciso de uma molécula que desempenhe outros papéis e eu não as encontro na natureza, a nanotecnologia me permitirá ir ao laboratório e construir uma molécula do jeito que eu quero”, diz.


 Mas afinal, o que é nanotecnologia?
            A nanotecnologia é chamada assim por desenvolver tecnologia em escala nanométrica. Mas o que afinal de contas é isso? O prefixo nano significa bilionésimo. Nanômetro é uma subdivisão do metro, assim como o centímetro e o milímetro, ou seja, um nanômetro é 10-9 metro de moléculas e átomos. Segundo pesquisadores, existe a necessidade de aumentar a capacidade de processamento, sem aumentar o tamanho das coisas. Ao mesmo tempo em que se aumenta a capacidade de processamento, reduz-se o tamanho.
           

 Em solo brasileiro
            Os investimentos na área de nanotecnologia no país cresceram nos últimos anos. Entre 2001 e 2007 o governo disponibilizou um incentivo de cerca de R$ 150 milhões para a pesquisa e desenvolvimento desses componentes. Para o professor do Instituto de Física da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Edson Vernek, a nanotecnologia é uma nova porta que se abre no processo de miniaturização. “Veja o quanto estamos reduzindo o tamanho das coisas. Em algum momento vamos chegar à escala atômica”, diz Vernek. Pela forma que as pesquisas caminham ela poderia até ser chamada de ‘porta das esperanças’.
            Em entrevista ao programa Trocando em Miúdos, da Rádio Universitária, da Universidade Federal de Uberlândia, o professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador-geral de Micro e Nanotecnologia do Ministério de Ciência, Tecnoligia e Inovação (MCTI), Adalberto Fazzio, comenta que os investimentos em nanotecnologia partiram de uma iniciativa norte-americana. “No final de 2001, o governo americano, na época Bill Clinton, percebeu a importância da nanotecnologia. E os Estados Unidos lançou um programa que é a Iniciativa Nacional em Nanotecnologia que foi fundamental. Segundo o pesquisador a área de cosmético é fortíssima. A previsão é que em 2015, os investimentos na área de nano causem um grande impacto na economia global.
            A nanotecnologia tem sido objeto de pesquisa no Instituto de Física da Universidade Federal  Uberlândia (Infis/UFU) desde 1995. O professor e coordenador do Programa de Pós-graduação em Física do Insfis, Roberto Hiroki, comenta que existem nove laboratórios no Instituto que trabalham de forma direta ou indireta com o desenvolvimento de materiais em geral, alguns em escala nanométrica.
            Hiroki explica que as áreas de pesquisa são divididas em teóricas e experimentais. Em particular, na área de modelagem computacional é possível “construir” virtualmente os materiais, aplicando as leis da mecânica quântica, e tentar descobrir novos efeitos.
            Dentre as diversas pesquisas realizadas no laboratório teórico, Hiroki destaca os trabalhos que envolvem nanotubos de carbono, que são pequenas estruturas, invisíveis até mesmo para microscópios ópticos, mas que possuem a maior resistência mecânica dentre todos os materiais conhecidos. “Em função de suas qualidades, esse material está sendo utilizado na produção de diversos componentes, substituindo outros materiais que se tornaram inviáveis”, afirma o coordenador.
            Os estudos do Infis nessa área tem conexões que vão além das fronteiras. “Tem muitos laboratórios aqui, inclusive o nosso, que está em rede com outros laboratórios do Brasil, inclusive alguns laboratórios fora do país”, conta o professor Hiroki.

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